Homicídio de Carlos Castro é obra de "homem doente"
O depoimento do detetive Richard Tirelli, da Brigada de Homicídios da Polícia de Nova Iorque, durou todo o dia. Durante essas horas, em que ficou evidente a tensão entre acusação e defesa, Tirelli fez a declaração que marcou o dia: o homicídio de Carlos Castro é obra de um "homem doente."
De imediato, a procuradora do caso, Maxine Rosenthal, salientou que o detive "não faz essa declaração na qualidade de especialista" e "não está a fazer um comentário legal ou médico sobre o estado mental de Renato Seabra."
"O que vimos no tribunal foi como surgem problemas entre dois sistemas, o da procuradoria e o da defesa, e os juízes estão no meio a colocar todos de novo na mesma página", comentou o advogado de defesa, David Touger, sobre a tensão com a procuradora. "Ambos temos um trabalho para fazer e ambos estamos a ser eficientes."
O advogado disse-se "surpreendido" com o depoimento de Tirelli. O detetive mostrou-se empenhado em não fazer qualquer afirmação que fosse além da confissão de Seabra. Tirelli recordou o momento em foi impedido de ver Seabra no Hospital Roosevelt, porque o jovem estava sedado; e avançou para o dia seguinte, quando, depois de seis horas de espera a "ultrapassar burocracia até ter permissão", entrevistou Seabra. Tirelli diz que o suspeito "foi muito cooperante" e "pediu para o pessoal médico sair da sala" porque "queria contar como tinha morto Mr. Castro." Segundo a confissão, descreveu como sufocou a vítima, atirando-a para o chão, e a atacou "durante, aproximadamente, uma hora." Seabra disse-se "enraivecido e frustrado" porque "não conseguia impedir o vírus da homossexualidade de se espalhar pelo mundo" e que cortou os testículos da vítima para "retirar os demónios." Durante o ataque, terá trocado de sapatilhas e "pisado e pontapeado o rosto e cabeça" de Carlos Castro "enquanto ele ainda respirava." No final, o detetive perguntou-lhe se ele se sentia melhor e Renato respondeu: "Sim, porque vocês são a polícia, e quero contar a minha história para tornar o mundo um lugar melhor."
As perguntas feitas pela defesa e acusação deixaram evidentes a estratégia de cada uma das partes. A procuradora insistiu nestas questões: "[Seabra] tocou-lhe? Disse que tinha tocado outras pessoas? Disse que tinha a capacidade de curar as pessoas? Falou-lhe em Deus? Disse que estava a cumprir uma missão de Deus?" Perante a resposta negativa a todas estas perguntas, a defesa retorquiu. "Mr. Seabra disse-lhe que tinha morto Mr. Castro porque a relação entre os dois tinha acabado? Porque não queria voltar para Portugal? Porque não ia receber mais viagens? Mais presentes caros?", perguntou David Touger. E concluiu: "Você não perguntou porque ele [Seabra] tinha morto Mr. Castro, pois não? Não perguntou porque só estava interessado em obter a sua confissão." Tirelli respondeu: "O que queria era a verdade."
O dia foi também marcado por um lapso no processo. As notas do detetive Tirelli, que tinham sido admitidas como prova, eram afinal do detetiva Michael D"Almeida. Há várias declarações de Renato Seabra presentes nas notas dos detetives - como o fato de Seabra ter cortado os pulsos "para se salvar" - que não foram incluídas na confissão. Os detetives deverão ser confrontados com essas omissões pela defesa durante o dia de hoje.